quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Que se prove o contrário

Mônica Ribeiro, ou simplesmente Mô, vive em conflito consigo mesma sobre ser ou não escritora. Na verdade esse conflito não é exatamente incomum e atinge uma parcela grande de bons escritores. A contraposição é a infeliz realidade da gigantesca fatia de péssimos juntadores de letrinhas que não somente se dizem grandes escritores como se sentem dignos de um Nobel.

O fato é que Mô sofre de perfeccionismo agudo, um ponto extremo que a impede de reconhecer a qualidade do próprio trabalho. Então solto o meu veredito de resenhista, jornalista, leitora e escritora: Mô escreve, e escreve bem.

Agora é a vez de vocês conhecerem o trabalho dela. Mô é escritora até que se prove o contrário.

Ampulheta
quantos pontos
são necessários
para estancar
o sangue
de quem se corta
com os cacos
da ampulheta?
quantas pinças
são necessárias
para tirar
do sangue
a areia do tempo
que escapou
da ampulheta quebrada?
quantos anos
sofridos
são necessários
para que não se quebre
a ampulheta?
a ampulheta
é por si
torta, trincada
mal lacrada, vazada.
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Eu chovi

mas já passou.
Ainda não atingi o
índice pluviométrico do
descanso mental.
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Fotogênesis
A minha fotografia mente
o meu olhar.
Não há as corrugas
do chapisco,
nem sequer a cor que vejo
dos riscos que contam
da chuva que choveu.
Não há fidelidade
na oxidação fotografada.
A câmera não mostra o ar que
belamente
pintou sardas no metal
que parece o telhado
sustentar.
Será?
Será que sustenta?
Os verdumes?
Deles nem falo.
Minha fotografia?
É mentira pro meu olhar.
Talvez um dia eu possa aprender
A fotogenar.
Já que não sei fotografar
uma nuvem gigante traça um plano cinza-escuro no céu.
acima, o breu e a lua:
ela adornada com seu halo também plúmbeo
ela partida ao meio.
algumas estrelas
. talvez mortas, para mim vivas .
fazem a escolta
falsa imóvel.
a terra gira
mas tudo parece parado.
apenas meus cabelos e as plantas e minha saia provam
que o ar hoje quis correr.
sob o pseudônimo vento
ele canta
com seu timbre indefinível.
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Mônica Ribeiro é mineira, perfeccionista e vive em constante batalha contra si mesma nesse mundo insano que nos convence o tempo todo que os doentes somos nós.

~Maya

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5 comentários:

Finaleira

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