terça-feira, 25 de junho de 2019

Rainha é a mãe

Fiquei um longo tempo refletindo, depois de colocar o blog no ar, quem estrearia efetivamente esse espaço. Seria uma resenha? Talvez uma das recentemente postas no meu perfil de facebook. Textos de alguém que admiro? Gonçalves Dias, quem sabe. Ou então já começar a curadoria do material enviado?

Confesso que me vi tentada a começar por mim mesma, textos meus. Me senti culpada, embora eu vá sim usar esse espaço para mostrar meu trabalho, ele entrará aqui como de qualquer outra e outro autor, não usando essa ferramenta como autopromoção. Então no meio de toda essa reflexão, caiu a ficha: é necessário que eu comece pela pessoa que me é não apenas a maior fonte de inspiração na vida, mas que jamais teve um espaço para si.

O primeiro post dentro da proposta do blog será de Lilia Bastian Falkenbach, minha mãe.

Em 2012, nós duas prontas para um jantar de premiação

Lilia nunca teve realmente pretensões literárias, sempre que a questiono se isso é realmente um fato um simples conformismo de quem não levou seu talento a outro nível, ela jura que se realiza literariamente em mim. E o faz. Ela é tão minha companheira em todas as minhas atividade literárias que em geral minha imagem é automaticamente associada à presença dela. E eu, claro, morro de orgulho.

Ela escreveu poemas na juventude. Não sabe dizer exatamente o motivo de ter parado de escrever, diz que foi a vida, o tempo passou, lá atrás foi uma menina que se casou muito jovem e assumiu integralmente a função de esposa e mãe de duas meninas. Vejo isso com frequência, inclusive, entre as autoras que tenho contato: é comum encontrar mulheres que esboçam os primeiros textos na juventude e só voltam a se dedicar à literatura depois que os filhos já estão com a vida feita.

Gosto de tê-la comigo me incentivando, participando ativamente do meu trabalho e das minhas realizações, mas gostaria ainda mais que ela tivesse o espaço dela, a carreira dela, as realizações dela. Já tentei convencê-la a voltar a escrever, ela ainda não cedeu aos meus apelos, porque sei que sente falta. Mesmo assim, ela não deixou sua literatura totalmente a ver navios e eu mesma cuidei de preservar pelo menos três de suas criações.

Conheçam com exclusividade os poemas de Lilia:


Ausente
O silêncio que vem
Da dor ou do amor
A lágrima que surge
No meu momento de saudade
Saudade do que passou
Que voltou, do que não aconteceu
A dança que ficou
Apenas nos sonhos
A palavra não dita, a palavra repetida
O som que ecoou,
Que surgiu do mundo ou do espaço perdido,
Não vivido
As luzes o escuro, o vazio
Retorno a um tempo,
No pensamento atordoado
Sofrido, vivido, sentido, curtido
A volta ao presente, sem estar presente
Ausente
Caminho sem rumo,
No escuro...

Melancolia
Melancolia
Agonia
Os dias passando
Nada mudando
Tudo virando
Noites longas
Dias se repetindo
A solidão chegando
E nada mudando
As conversas se repetindo,
As queixas crescendo
A alegria sumindo
Partindo, evaporando
O mundo acabando
As flores murchando
O tempo passando...
Melancolia


A luz
Caminho
Sigo sem rumo pelas ruas
Nada penso, nada ouço, nada vejo
O vento bate em meu rosto
Acordo do nada
Pensamentos agora povoam minha mente
Caminho
Sigo a luz que ilumina
Respiro o ar do entardecer
Passos lentos
Respiração suave
Cabelos ao vento
Silêncio, perfume, a luz
A luz!
Mais próxima
Caminho,
Passos rápidos
Respiração ofegante
Cabelos ao vento
Silêncio, perfume
A luz
Eu chego lá...


Lilia Bastian Falkenbach nasceu em 17 de julho de 1955 em Caxias do Sul. Chegou a cursar Turismo na PUC de Porto Alegre, mas abandonou os estudos para se dedicar à família. Mais nova de 4 irmãos, Lilia é mãe da psicóloga Roberta Bastian Falkenbach e da escritora Maya Falks. Também é avó da Georgia e do Murilo.

~Maya

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Finaleira

Esse é o último post desse blog. CALMA, NÃO PRECISA DESMAIAR! Não, o Bibliofilia não acabou! O causo é que no finalzinho de outubro, mais...