quarta-feira, 26 de junho de 2019

O silêncio real e o metafórico

Já conhecia Valesca de nome, claro, mas sabia pouco dela até ela ser convidada a integrar o juri de um concurso onde venci com primeiro lugar em crônicas. Levei uns meses, mas tomei coragem e a adicionei no Facebook. A partir dali começou a nascer uma amizade para além da admiração que já existia antes, e nosso encontro na Feira do Livro de Caxias do Sul de 2017 selou de vez essa amizade.

Um tempo depois disso chegou às minhas mãos o livro "A ponta do silêncio". A leitura foi rápida, não apenas por ser um livro curto, mas por ser um livro cativante. A história da mulher que aguentou calada todo tipo de humilhação e violência para ao final ser a principal suspeita da morte de seu agressor, quando se viu novamente calada, dessa vez pelo estado de choque.



Não vou falar sobre a Marga, a protagonista dessa história, nem sobre o Rudy, o antagonista que se converte a vítima a golpes de faca. A história está no livro e em tantas outras resenhas por aí - e você, leitor, não terá dificuldades de encontra-las. Quero falar do que ela transmite.

Para muito além das agonias cotidianas de Marga e de todos os que são afetados pela violência - da simbólica à física - de Rudy, "A ponta do silêncio" acaba se tornando uma voz contundente às mulheres caladas pelo medo e pela vulnerabilidade. Não apenas isso, demonstra com precisão a sutileza com que a violência começa e vai envolvendo a mulher de tal forma que ela já não consegue se desprender de uma relação abusiva mesmo quando a violência chega a níveis mais letais.

Para coroar com ainda mais maestria essa obra espetacular, Valesca trabalha o silêncio como linguagem primordial dessa mulher aprisionada no ciclo de violência. Primeiro simbólico, depois físico. O silêncio é sua maior companhia, mesmo quando seria a ela tão importante gritar e se libertar das grades invisíveis que a cercam.

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A Ponta do Silêncio
Valesca de Assis
Besourobox - Porto Alegre, 2016
84 páginas

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Valesca de Assis é natural de Santa Cruz do Sul (RS) e reside em Porto Alegre. Sua estreia como escritora foi em 1990 com "A valsa da Medusa". Multipremiada, Valesca é também reconhecida autora de livros infantis (além de ser uma pessoa incrível).

~Maya

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