E foi em uma chamada para apresentar o trabalho de outros escritores que Ayrton Neto me procurou. Timidamente, queria saber como funcionava para divulgar seu trabalho aqui. Esse tipo de situação me deixa ansiosa, nunca se sabe o que vai vir e, ao mesmo tempo em que quero manter um certo nível de qualidade nesse blog, também não quero ser a pessoa que fecha portas.
São sonhos. Sei muito bem como é, também tenho os meus.
Então Ayrton me mandou um texto. Li com gosto e vi que Ayrton é mais um daqueles casos de gente com talento que o mundo ainda não conheceu.
Então eu mostro.
Conheçam Ayrton Neto!
27.
era algo de outra vida.
não acredito em sobrenaturalidades. não valorizo essas inutilidades. essas explicações simplórias e as juras de certezas que ignóbeis arremessam ao vento. não comprimo meus sentimentos com astrologia, rivotril ou Jesus Cristo. eu acredito em mim, não no mundo e o que traz. mas era algo de outra vida.
tudo começou com meu cigarro escapando pra tua boca.
segurei teu braço, te dei abrigo e trocamos goles do que bebíamos. eu ouvia sua voz, eu juro, mas não a entendia. sou essencialmente tímido, mas te olhei e fiquei encarando. linda, era. com meu casaco, mais. vivíamos o desembaraço de uma mesa de bar, mas continuava sem entender nada. tive acesso aos teus sorrisos de boca fechada, mas não ao som de tua voz. estava furioso por isso, confesso. acendia um cigarro no outro. pouco ligava para as cinzas que manchavam minha calça preta. sei que balbuciava algumas palavras em troca das tuas, mas não as alcançava. queria entender. queria te ouvir. queria saber mais sobre quem não sei direito ainda quem é.
lembro que segurava um copo maior que o meu e que me entregou um livro. quis agradecer com um beijo no rosto, mas não pude. em um último gole do meu trago, encontrei sanidade o suficiente para ler em teus lábios sobre a importância do número vinte e sete. após isso, muni-me de amor e me despedi. nada mais me faltava nessa vida. decidi acreditar e esperar por ti nas próximas.
desde então, em cada copo que bebo e cigarro que acendo, sinto um pouco de ti.
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Ayrton Neto está há 24 anos à procura de divergência, por acreditar que a simetria seja politicamente correta demais.
~Maya
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