domingo, 14 de julho de 2019

Entre espelhos

Tive acesso ao trabalho de Rosângela Vieira Rocha ainda ano passado, com O Indizível Sentido do Amor, nos tempos que ainda não fazia resenhas. Esse ano, fui uma das pessoas de sorte que receberam o seu lançamento, Nenhum Espelho Reflete seu Rosto, para comentar.

Além da capa criada por Luiz Prates, eu já esperava que o livro seria de alta qualidade porque assim o é a literatura de Rosângela.



O livro conta a história de Helen, uma mulher de meia-idade que trabalha com joias e é abordada, logo no início do livro, por um psiquiatra que tem uma de suas pacientes sucumbindo a uma depressão causada por um relacionamento abusivo. Relacionamento esse que Helen conhece de perto, já que também se viu presa na teia narcísica do mesmo homem.

Helen reflete sobre o pedido do médico - revisitar esse relacionamento lhe é motivo de intensa dor - enquanto trabalha na sua primeira coleção autoral de joias.

Entre explicações sobre pedras, gemas, formas de lapidação e manuseio do ouro e o contato que Helen mantém com o psiquiatra, vamos conhecendo a personalidade de Ivan, um argentino sedutor que Helen conheceu em rede social.

Ivan é um predador. Ele sabe como atrair uma mulher à sua teia para dela tirar tudo o que lhe for interessante, do dinheiro à autoestima. E Helen por muito pouco não teve o mesmo destino da paciente do médico que a procurou.

Sabemos que Helen tem um final, digamos, feliz - ou no mínimo quase totalmente liberta de seu predador - porque é ela quem conta, em tempo passado, tudo o que passou nas mãos do narcisista, mas não sabemos se a mulher a quem ela se dispôs a ajudar terá o mesmo destino.

Ao iniciar a leitura, uma característica típica de Rosângela me causou certo grau de surpresa: a prosa concreta. Rosângela não se aventura no campo da poesia, e, por isso, sua prosa é totalmente desprovida de elementos poéticos, como devaneios ou hipérboles. Causou-me surpresa porque não apenas leio muita prosa poética como é também o estilo que adoto na minha prosa. 

Isso em absolutamente nada reduz a qualidade da prosa de Rosângela, é apenas uma observação estilística, até porque a autora tem a qualidade excepcional da descrição sem exageros. Ela é capaz de nos fazer visualizar suas cenas sem nos levar à exaustão dos detalhes. 

Nesse sentido é mais um ponto que o livro ganha em mérito: jamais tive acesso ao mundo da joalheria e compreendi sem dificuldade toda a narrativa em torno da criação e confecção das joias, tudo descrito de forma direta e agradável.

Para além das análises estilísticas, cabe destaca que a cada fim de e-mail ao médico, aumenta a vontade correr para o próximo. Sem dramas excessivos - aliás, sem drama algum - Rosângela nos coloca no centro do sofrimento de Helen sem, no entanto, explorar sua dor com sensacionalismo. São fatos, descritos como tal, mas nem por isso desprovidos de sentimento.

Não me surpreendeu a qualidade do livro, Rosângela é uma ótima escritora e eu já sabia disso. Mais uma maravilhosa leitura que me orgulho de trazer ao Bibliofilia.

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Nenhum espelho reflete seu rosto
Rosângela Vieira Rocha

Arribaçã: Cajazeiras, 2019
263 páginas
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Rosângela Vieira Rocha é natural de Inhapim (MG) mas reside em Brasília desde 1968. Escritora, jornalista e professora aposentada do Departamento de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UnB, é também advogada e Mestre em Comunicação Social pela USP. Autora de 12 livros entre infantis e adultos, Rosângela coleciona prêmios ao longo de sua produtiva carreira.


~Maya

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