segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Enterrando Suzana

Logo depois que lancei meu último livro, vi o anúncio do lançamento de Um Enterro para Suzana, de Paula Bajer. O livro imediatamente me conquistou por ter sido diagramado com um formato de revista, maior do que o tamanho tradicional de um livro e com pequenos resumos de outro contros na capa, exatamente como uma revista de fofoca.


Comprei na pré-venda e me apaixonei pelo livro, de deixar exposto no quarto. Mas demorei um bom tempo pra ler.

Bom... esses tempos um autor me contatou interessado em me enviar o livro dele para resenha e questionou que no blog só tinha resenha positiva. Expliquei a ele que, além da sorte que tive até aquele momento de ler apenas livros de que realmente gostei, ainda queria fazer desse espaço um lugar positivo, demonstrando as potencialidades das obras resenhadas mesmo que tenha encontrado problemas em algumas. Até porque problemas praticamente todas as obras têm e a leitura é muito subjetiva, muito particular, o que me agrada não necessariamente vai agradar o outro.

Não vou jamais chegar aqui e dizer que um livro é ruim porque não gostei dele. Não apenas não sou autoridade no assunto como não é nem coerente sentenciar um livro porque ele não me tocou ou agradou quando pode tê-lo feito com outros leitores.

Comecei a ler o livro com uma boa dose de otimismo porque gosto de histórias com toque policial e não leio nenhum livro do gênero há milênios (tem um na fila das resenhas, por sinal). Meu primeiro choque foi a minha sensação de que o conto que nomeia o livro foi interrompido no meio.

Me agradou que Paula tenha usado a mesma técnica que Thiago Medeiros ao dividir o conto em diversas pequenas histórias conectadas entre si, como capítulos de um romance, mas quando vi o conto terminar, sob a minha ótima, abruptamente, fiquei surpresa. Lembrei das obras tanto de Thiago (que inesperadamente retomou um de seus contos posteriormente) e de Lilia Guerra, que ao longo de sua obra contou duas grandes narrativas separadas, como se dois romances se misturassem.

No caso de Thiago havia uma maior independência dos contos que tiveram continuação. No caso da Lilia, minha única observação foi que alguns dos contos não tinham fechamento para que fossem continuados posteriormente, sendo muito capítulos do que contos de fato, mas todas as histórias tiveram seu arco concluído até o final da obra.

Em Um Enterro para Suzana, quando terminei de ler o conto, depois da sensação de estranhamento por me parecer que o conto foi interrompido no meio, imaginei que fosse o mesmo estilo adotado por Lilia, que mais tarde viria o conto que encerraria o arco. Não veio.

Fiz observações ao longo dos contos do livro, concluindo que, por exemplo, o conto "A carta de Glória" também foi interrompido antes de uma conclusão, porém, a história me forneceu elementos o bastante para que o fim me fosse claro, mesmo que não redigido em sua integridade. Foi um conto que gostei muito. Nessa mesma linha está o conto "Enquanto os casais namoravam no jardim", que inclusive senti uma conclusão muito bem desenhada, com uma sutileza quase poética, mas cujo arco ficou muito claro pra mim.

Nesse aspecto, o conto "A carteira vermelha" foi o mais concreto, com um final totalmente presente, entretanto, não figura a lista dos contos que mais gostei no livro.

Por outro lado, encontrei muitos elementos de contraposição ao que me incomodou na obra, como o conto "Sílvio, não se esqueça do cacto". Nas minhas anotações, considerei o desfecho atropelado. Isso não foi anotado ali como uma crítica negativa, pelo contrário. Foi a mesma observação que fiz do último conto da obra de Rafaela Tavares: a narrativa estava boa, todos os elementos estavam lá, era um conto que merecia uma atenção a mais, porque o potencial existe.

Já "Meu GPS e o paraíso de Dante" é um conto que precisa ser lido sem pressa, para saborear o exercício psicodélico que Paula nos propõe. É uma experiência e certamente meu conto favorito do livro.

Como disse no início da resenha, não estou aqui para diminuir o trabalho de ninguém, não tenho nem qualificação para tanto. Mas infelizmente, pelo compromisso assumido com os leitores, não posso dizer que gostei do livro por diplomacia, ou por não querer me indispor. Insisto que tudo o que foi dito aqui é a impressão pessoal de alguém que já leu de tudo nessa vida. Cada um na sua subjetividade; não gostei por provavelmente motivos totalmente ligados à minha que podem diferir de leitor para leitor.

Paula é uma escritora que coloca paixão no seu trabalho, disso eu não tenho a menor dúvida. É perceptível que estamos diante de uma autora dedicada, as narrativas em si contém muito elemento positivo que pode conquistar outros leitores. Não aconteceu comigo, e eu lamento ter que dizer isso pela primeira vez desde que estreei o blog.

Entretanto, essa experiência não me desencoraja a ter curiosidade de ler outros trabalhos de Paula, já li livro cujos autores jamais voltarão à minha biblioteca por perceber deles um total desinteresse em suas narrativas. Valorizo quem valoriza seu trabalho, e Paula valoriza. Mesmo que nesse texto eu expresse que "Um enterro para Suzana" não foi de meu agrado, ainda convido os leitores do Bibliofilia Cotidiana para conhecerem a obra. Há um bom público para ela, eu só não pertenço a ele.
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Um enterro para Suzana
Paula Bajer

Patuá: São Paulo, 2019
111 páginas
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Paula Bajer Fernandes publicou os romances Viagem sentimental ao Japão (Apicuri), Nove tiros em Chef Lidu (Editora Circuito, e-galáxia), Feliz aniversário, Sílvia (Editora Patuá), assim como o livro de contos Asfalto (digital, e-galáxia). Publicou contos em Achados e perdidos (RDG e e-book), 50 anos daquele 64 (fanzine, e-book), Serendpt (Livrus) e Sub (Patuá), Eu não sou aqui (Patuá), coletâneas do Coletivo Literário Martelinho de Ouro. É autora, também, de Processo penal e cidadania (Jorge Zahar Editor), atualizado para Punição e Liberdade no Brasil (e-galáxia, digital), assim como de livros e artigos na disciplina do direito.

~Maya

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