Como aqui não é o Tinder nem a Playboy, não me refiro à sua beleza ruiva desse mulherão da porra, me refiro à sua obra poética.
Ainda não tive de fato a oportunidade de ler seus livros (e certamente um dia o farei à luz de velas), mas acompanho seu trabalho pelo Facebook e não tem um texto dela por lá que não me deixe com vontade ser ela quando eu crescer (mesmo a gente tendo só um ano de diferença).
Ana tem uma perspicácia que faz com que seus poemas penetrem nos poros. Ela foge do óbvio, fala de amor sem pieguice, de sexo sem baixaria. Fala de ser mulher, de ser humana e tudo isso de um jeito que dá vontade de lamber a tela - ainda me prevejo comendo seus livros com molho vermelho.
E assim chegou ela ao Bibliofilia Cotiana nos presenteando com três textos que ainda estão para ser lançados. Sim, colega devorador de literatura, os textos abaixo são do livro "Demônio de Pelúcia", que só sai ano que vem e eu já quero desesperadamente (Deus, dai-me um emprego e renda para que eu não passe mais essa vontade).
Divirtam-se.
Revezava um dia para cada: o policial nas
quartas e sextas, o ex presidiário nas terças e quintas. Nos finais de semana
eles ficavam com suas respectivas esposas e eu inventava um terceiro que não me
cobrasse nada. E toda segunda feira eu deixava livre para chorar em paz.
*
Já matou, ele disse
eu vi certo glamour no ex detento que me levou pra comer um xis e quebrar icebergs
duas semanas de convívio e eu não agüentava mais preparar aperitivos e passar a bandeja para 20 cabeças como fosse uma garçonete que sorri forçadamente por uma gorjeta
larguei tudo na pia, saí pela estrada de terra até esticar meu dedo na BR e entrar na boleia de uma Scania pra chegar na minha casa e nunca mais sair
desde então não ponho a cara na rua
aprendi a tricotar com meus próprios cabelos e só pretendo parar quando terminar um cachecol que dê duas voltas no pescoço de um ciclope
eu vi certo glamour no ex detento que me levou pra comer um xis e quebrar icebergs
duas semanas de convívio e eu não agüentava mais preparar aperitivos e passar a bandeja para 20 cabeças como fosse uma garçonete que sorri forçadamente por uma gorjeta
larguei tudo na pia, saí pela estrada de terra até esticar meu dedo na BR e entrar na boleia de uma Scania pra chegar na minha casa e nunca mais sair
desde então não ponho a cara na rua
aprendi a tricotar com meus próprios cabelos e só pretendo parar quando terminar um cachecol que dê duas voltas no pescoço de um ciclope
*
e
foi quando a equipe médica entrou no quarto que o Doutor recusou-me o
tratamento e negou enfaticamente a minha internação, alegando que meu caso era
de exorcismo e eu achei por bem não contrariar, embora enquanto ele falasse eu
rasgasse minha camisola hospitalar gargalhando aos quatro ventos cortados
__________________
Ana Farrah é gaúcha de 1981. Teve sua escrita notada nas redes sociais
quando seus textos começaram a ser publicados em blogs e revistas eletrônicas
de literatura contemporânea no Brasil e em Portugal. Participou da coletânea de
contos Sete Pecados, pela editora Scenarium Plural e da antologia
‘Contemporâneas’ na revista Vidas Secretas, editada por João Gomes. Publicou
poemas também no Livro da Tribo, pela Editora da Tribo. É colaboradora/curadora
na Mallarmargens, revista virtual de poesia e arte contemporânea. Escreve sem
eira em poesia sarcástica, mas transita entre outros estilos. No momento, Ana
trabalha com Estética e escreve nos intervalos entre uma massagem e outra.
Publicou o livro "Orquídea Trepadeira e outras flores ordinárias", em
2017, pela Editora Benfazeja; em 2018 publicou “Os Mortos do Apartamento 21”,
pela Editora Patuá. Seu próximo livro, ‘Demônio de Pelúcia’, tem previsão para
lançamento no ano que vem.
~Maya
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