terça-feira, 16 de julho de 2019

Sobre Marias

Conheci Viviane no facebook, como em geral é o que acontece na minha vida, mais um ponto para a rede social. Vi que ela estava prestes a lançar um livro, As Dez Marias, e de imediato me interessei. Maria já é mais do que um nome feminino; é um símbolo.



Maria habita o imaginário coletivo seja como a mãe de Jesus, a virgem e imaculada mulher que cedeu seu ventre para conceber o filho de Deus, ou Maria Madalena, salva do apedrejamento pelo messias. Segundo alguns, prostituta redimida, segundo outros, grande amor de Jesus. Seja como for, Marias viraram o símbolo da representação feminina, a santa e a puta.

O primeiro aspecto que me fascinou na obra de Viviane, entretanto, é ela ter usado o nome símbolo sem no entanto explorar as imagens bíblicas. Pelo contrário.

A Maria que norteia o livro é Maria Leopoldina, imperatriz do Brasil, esposa apaixonada e traída por D. Pedro I, obrigada a conviver com a amante do marido, Domitila, enquanto engolia dentro de si a dor de viver um amor não correspondido.

Acompanhamos de perto os últimos dias de vida dessa Maria. Nos intervalos, conhecemos outras. Todos os textos em primeira pessoa, nos colocando diretamente dentro de cada Maria. Marias famosas, Marias anônimas. Marias que não eram Marias, mas quase, como Marielle Franco, aquela que, como mesmo diz a autora, encontrou seu lugar na história depois que lhe foi negado lugar na vida, vítima de um homicídio covarde para calar sua voz (e ela se multiplicou).

Maria Firmina, primeira romancista brasileira, negra. Maria da Penha, vítima de diversas tentativas de homicídio pelo marido cuja luta resultou na nossa lei de proteção às vítimas de violência doméstica. Maria Laura, que já foi Gabriel. Por sinal, dos pequenos textos entre os últimos dias de vida de Maria Leopoldina, o meu favorito.

Não são 10 Marias, como sugere o texto. São milhares. Milhares de Marias que sequer levam Maria no nome.

Viviane, que, da sua maneira, também é Maria, apresenta cada uma. Se me coubesse uma sugestão à autora, diria apenas para falar um pouco mais delas. Sua narrativa redondinha deixa um gosto de "quero mais" ao final de cada história. Algumas, inclusive, funcionariam muito bem como contos, retirados do contexto do livro.

As Dez Marias é um livro sensível, claramente fruto de pesquisa e com uma força que somente uma Maria poderia ter.

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As Dez Marias
Viviane Ferreira Santiago

Patuá: São Paulo, 2019
196 páginas
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Viviane Ferreira Santiago nasceu em Belo Horizonte MG e mora em São Paulo há 25 anos.
É jornalista, pós-graduada em Literatura Brasileira, graduanda em Letras.
Encontrou na literatura a ferramenta necessária para submergir de uma caótica realidade periférica, assim, tem alçado voo e conquistado espaço na escrita contemporânea.
Seu primeiro livro de contos, A Linha Amarela do Metrô, recebeu a bolsa PROAC 2017, da Secretaria da Cultura e Governo do Estado de São Paulo para publicação.
Seu livro As Dez Marias recebeu em 2018 a premiação inédita, do então, Ministério da Cultura, para publicação de livros com temática aos 200 anos da independência do Brasil, sendo assim agraciado por sua qualidade literária.



~Maya
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