quinta-feira, 26 de setembro de 2019

De palavras e vozes - o talento de Arthur

Conheci Arthur na praça central da cidade em uma ação pelo dia da poesia, no início do ano. Apesar da altura e da imponência, Arthur ainda é um garoto. Quando ele me enviou sua biografia, brincamos com o fato de que ele nasceu no meu segundo ano da primeira graduação. Coincidentemente, Arthur prestigiou a apresentação do meu TCC na segunda graduação.

Sem nenhuma publicação (ainda), Arthur já impressiona pelo currículo, pela participação ativa em eventos e iniciativas culturais e por ser membro e um dos idealizadores do Coletivo Cerco Arte - Ser com Arte, um grupo de jovens escritores engajado na causa cultural, falei deles aqui.

Entretanto, além do trabalho poético e do engajamento em políticas culturais, o jovem Arthur também é um declamador de primeira categoria. Já solicitei que ele me enviasse uma declamação em vídeo para enriquecer ainda mais o conteúdo do blog, espero que ele o faça rápido (isso é uma intimação, Arthur!).

Enquanto suas declamações ainda não estão disponíveis para o público Bibliofilia, ficamos com um de seus poemas, escolhido por ele mesmo. Boa leitura!

cânticos abstratos para um amor inominável

I
Evoco teu nome
cometa de carne humana
me leva para as estrelas
me foge de tudo
me deseja com teus lábios cadentes
só corre
não olha para trás
vamos morrer no espaço
abraçados
longe de tudo
pertinho do planeta a-marte
combustão sideral
amor galáctico e molhado
ciência da nossa indecência
clemência
universo-paixão

II
como me fere
as unhas compridas
ferinas da palavra desamor
ex-amor
nunca amor
por tanto que ardo
venero
idolatro essa figura
noturna
mistério
baú
manhã cinza
sândalo da minha narina
que é meu medo também
faca
babaca
esse sentimento
de acabar te afastando
matando meu mundano
por tanto te querer


III
lua
quem me dera a pele fosse nua
sem pudor
crua
amizade não fosse desculpa pra não beijar
amar sem receios
abaixo pesadelos
olhos
preconceitos
tomar pedaços de escuro
no escuro
ou na luz do dia
vadia
se eu gritasse mais
falasse sem dó
seria tão feliz
tão livre
cantando ao sol lá si
e a lua safada como riria
por estar sem roupa
e não dar a mínima

IV
ama
ama-me
amor
amante
amado
amando
amém

V
socorro
meu maior medo
a flor vai morrer
secar na primavera
quanto mais passam os dias
mais longe de mim
menos vida
menos espera
chega a tempestade
caminhando em linha torta
em rota de cravos engomados
desalinhada
tosca
espinhenta
sem o mesmo cuidado
nenhum coração
aa
socorro
a luz vai sufocar
o amor vai acabar
fotossíntesereversa
teu fogo apaga
e o meu só cresce
mais
mais

VI
quero beber hidromel
leite condensado
beijar ardente
e vodka
veneno
que tal
não deve fazer tão mal
para quem já está bêbado assim
de vida
de prazer
como me dói em dizer
que guardo tudo isso comigo
tudo
toda essa vontade
todo esse desejo que tenho de você
por quê
porque mundo
por quê

VII
uma vez uma estrelinha
pousou na minha cabeceira
que coceira que me deu
ela me contou
de um mundo mais contente
que toda gente era feita de biscoito
chiclete
bala
não tinham cor, nem sexo e nem cara
por isso sabiam o que era amar
perguntei que terra era essa
se era distante
achava que era
mas não era
ficava escondida no fundo
profundo
mundo submundo do meu coração

VIII
nunca pensei que gostaria do espelho
me espelhando em alguém
que gostaria de tocar nesse espelho
afagando a mim também
quem sou
quem é aquele que quer quem
te quero bem
demais
meu amor de espelho que só os cegos veem
sem dono
sem reflexo
só meu de mais ninguém
como eu te amo
meu eu em outro alguém

IX
nome de arcanjo
pelos negros do diabo
se estou apaixonado não tenho mais volta
quero dar meu fogo
arrancar todo céu
profanar o arcanjo bebendo samael
as palavras são fortes
porque sinto e não posso sentir
testemunho de enxofre
monólogo satã
perdão pelo egoísmo
meu amor que exorcizo sem nunca querer

X
paixão
quero dar um beijo
sair correndo
voando pelas nuvens uma a uma
pluft
vulp
só pra ver a reação
sentir gosto doce
glicose
boca de algodão
macia
mia
essência chupa-cabra
mais chupa
menos cabra
macabra
desculpa perguntar
mas esse açúcar
é só em cima
ou embaixo também

XI
entra
seja bem-vindo ao sonho
disforme
aquoso
banheira de espuma com sais
encontro de cabeças
peles encostadas
fala baixa
assanhada
carícias
sussurrando
devagar
calma
mais devagar
sem pressa pra acabar
sorriso de vez em quando
leve malicia
nossa
estou sonhando
delírio
apenas sonhando e nada mais
maldição

XII
sim
abandono meu mar
sufoco a vela
mas não desnudo nunca a alma
por ser taurino
ascendente em gêmeos
meio feminino
por tanto querer na cama um "me ama"
amor irracional
essência animal
sem tempo a perder
faço
cada traço
teu braço
amo loucamente
sou mesmo demente
vulcão-carente
por você seco o mar e morro de sede
apago a vela e fico nas trevas
agora a alma eu não largo
por ser tudo que tenho e quase ninguém

_______________________

Arthur Campagnolo Della Giustina, nascido em Caxias do Sul – RS no ano de 2001, é cronista, poeta, ativista e músico caxiense. Possui participações em antologias, portais de notícias e revistas digitais pelo Brasil. Membro do Movimento Aldravianista Caxiense. Atua como trovador e Vice-Presidente de Cultura da UBT – Seção Caxias do Sul na gestão 2019/2020. Responsável pela organização de eventos e diversos projetos de caráter litero-cultural no município. Idealizador da SGJE - Sociedade Gaúcha de Jovens Escritores no ano de 2019. Membro-fundador dos coletivos "Grupo Sabiá" e "Cerco Arte - Ser com Arte", que têm por objetivo criar, fomentar e valorizar um diálogo constante entre os diversos segmentos culturais na sociedade em que estão inseridos. Acadêmico Correspondente na cadeira n°2 da Academia de Letras Machado de Assis (ALMA) em Porto Alegre. Premiado em diversos concursos literários, indicado no ano de 2019 ao Troféu Machado de Assis por "Expressão Literária" em Itabira, Minas Gerais.

~Maya


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