Poucos são os exemplos (se é que existem) de autores que
jamais ouviram um “não” de uma editora, uma revista ou um concurso literário. O
não, feliz ou infelizmente, é parte da jornada, não só da vida de qualquer
escritor, mas de qualquer pessoa.
Na literatura muitos motivos podem resultar em uma negativa
por parte de uma editora, que pode ir de incompatibilidade com a linha
editorial da empresa até má qualidade do texto. Sim, nem sempre somos tão bons
quanto imaginamos, e é aí que entra a parte mais crítica do processo.
A frustração é natural, ninguém gosta de ser recusado. Principalmente:
ninguém gosta de ser recusado e passa a achar que tudo o que a editora que
recusou publica é muito ruim e, portanto, você é a pessoa mais injustiçada do
planeta. Sim, sim, essa raivinha que você começa a alimentar dos que foram
aprovados pela editora também é parte do processo de luto pela recusa do seu
trabalho.
Luto sim, é uma perda. Geralmente – e digo geralmente porque
não ouso afirmar que é assim com todos – quem escreve um livro e o submete a
uma editora, o faz com uma boa dose de carinho, dedicação e cria, mesmo que sem
querer, uma série de sonhos ao redor daquela publicação. Daí vem o não.
Alguns reagem com autodepreciação, se achando os piores
autores do planeta quando de repente sequer foi realmente a qualidade do texto
que pesou na recusa. Outros reagem de forma violenta, não aceitam de jeito
nenhum que alguém ouse dizer não ao seu bebê e passam a tratar a editora e
todos os seus autores como inimigos. Outros apenas seguem em frente, revisam o
livro, tentam outros caminhos. Geralmente esses últimos são aqueles que já
levaram nãos o bastante pra saber que não é o fim do mundo, nem da linha, nem
da carreira, nem dos sonhos.
Ninguém espera que uma recusa seja recebida com alegria; é
um direito do recusado se sentir desanimado ou revoltado com o resultado de sua
tentativa, mas esse sentimento precisa ser passageiro. Remoer a recusa ajuda em
vários nadas para dar o passo seguinte, que pode ser desde uma revisão do livro
à escolha de outra editora com um perfil editorial mais adequado ao seu
trabalho.
É nesse segundo ponto que entram muitos dos casos de recusa,
inclusive. Não adianta enviar um livro de poesia romântica para uma editora
voltada à prosa de terror ou buscar uma editora de autopublicação sem ter
dinheiro para investir; esses são casos de recusa certa independente da
qualidade do seu material. Uma editora focada em prosa dificilmente publicará
poesia, uma editora com viés estritamente comercial dificilmente publicará um
livro com menor potencial de vendas mesmo que seu conteúdo seja brilhante, uma
editora focada em públicos específicos não publicará livros voltados para
outros públicos. As vezes, também, está tudo certo, seu trabalho e a editora
parecem formar um par perfeito mas as condições do momento, do mercado, da
demanda, da sociedade, acabam por melar o casamento.
Pare, pense e reflita: você enviou para uma editora com um
perfil editorial que combina com o seu trabalho? Sua narrativa usa uma
linguagem que combina com o público que você pretende atingir? Seu texto possui
coesão, coerência, verossimilhança e personagens tridimensionais? Sua história
possui amarras que, mesmo que você use um estilo não linear, o leitor ainda
saberá que está lendo o mesmo livro do começo ao fim?
Acredite, o “não” pode ser uma boa oportunidade de repensar
alguns caminhos, nem que seja de qual selo queremos na capa do nosso livro se
ainda não estivermos prontos para a autocrítica – por sinal, cada dia mais
fundamental e nem sempre presente. É importante ressaltar que erramos sim.
Todos. Editores dispensam livros ótimos todos os dias, autores entopem as
caixas de entrada de editoras com livros medíocres todos os dias. Estamos todos
sujeitos ao erro. O editor mais experiente pode deixar escapar um potencial
grande nome da literatura e um grande nome da literatura pode escrever um livro
horrível no auge da sua carreira.
A grande questão é que vivemos na era dos egos, de todos os
lados. Temos sim, claro, editores que pisam nos sonhos de autores de forma
muitas vezes até cruel (aconteceu comigo, por sinal, já tem um tempo, me recuso
a expor nomes), e temos também gente sem nenhum preparo, nenhum interesse no
aprimoramento da escrita, nenhuma vontade de aprender, que só quer ter seu nome
estampado na capa de um ou de muitos e muitos livros, e acha que isso deve ser
o bastante, sendo obrigação das editoras aprovar sua obra.
Não é assim que a vida funciona. Não é assim que o mercado
editorial funciona. Começa que nem tudo é justo e tem sim muita gente boa se
ferrando sem oportunidade e muita gente nhé se dando bem, no mundo inteiro, em todas
as áreas. Sabemos que as coisas são assim, mas não é esperneando que a coisa se
resolver.
Fundamental é viver de cabeça erguida e fazer a sua parte.
Talvez o editor que disse não está errado e sua obra é incrivelmente
maravilhosa, talvez ele esteja certo e sua obra precisa ser revista, talvez não
bateu o santo e outro editor vai gostar do seu material, mas seja qual for a
explicação para o seu “não”, a melhor saída será sempre dar uma olhada a mais,
continuar buscando conhecimento (como já dizia o icônico ET Bilu), lendo muito,
buscando opiniões de terceiros, praticando.
A literatura é de uma subjetividade absurda. Podemos acertar
a mão em uma obra e errar feio na outra. Quando resenho livros de contos ou
poesias aqui no blog, é normal ter uma porcentagem mínima de textos do livro
que destoam dos demais. Não teve um único romance que eu resenhei que não achei
algum furo na história. E posso garantir que acontece o mesmo com os meus
livros, porque escritores não são robôs e a perfeição nas artes é uma questão
de ponto de vista. Ter textos que não gostei entre poesias e contos ou pequenos
furos nas narrativas longas não mudou minha percepção da qualidade das obras
porque é NORMAL.
Como é normal, NORMAL, ser recusado.
Portas fecham, portas abrem. Portas só permanecem fechadas
para quem fica esperneando do lado de fora. Levanta, sacode a poeira e vai
atrás de seus sonhos onde eles forem bem-vindos.
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